segunda-feira, 4 de maio de 2009

Depois de Balsamão

Sair de Lisboa numa 6ª feira de manhã com o propósito de aprender Yoga em Balsamão (a mais de 600km de distância) faz desejar, no mínimo, que valha a pena.
No primeiro contacto em Balsamão logo me chamou a atenção o sotaque do padre que nos cumprimentou cordial e afavelmente. Soava a origem eslava, o que parecia um pouco insólito naquele sítio, deslumbrante mas longínquo. Não conhecendo os antecedentes do Convento, investiguei. E, sim, é polaca.
O Convento de Balsamão pertence a uma congregação fundada, em 1673, pelo Padre Estanislau Papczynski, na Polónia. 87 anos depois a congregação é trazida para Portugal pelo Padre Frei Casimiro Wyszynski. É uma congregação religiosa, intimamente ligada a padres e Irmãos polacos, e continua assim nos dias de hoje. É conhecida por Marianos, uma comunidade bem activa o que facilmente ressalta à chegada ao Convento: Reconstruído, restaurado, cuidado com aquele desvelo de quem faz o que faz por amor. E algo me disse que o Yoga iria bem naquele local. Foi esta a inspiração para os dois dias intensos de prática e aprendizagem de Yoga. No fim, quando regressámos, tinha-se confirmado, o desejo: Valeu e pena!


EMT

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No fim de semana de 25 de Abril resolvi rumar a Macedo de Cavaleiros para participar num retiro de Yoga dirigido por Andre de Rose. Tomei conhecimento do curso através do meu professor de yoga, o Hugo Jerónimo, com quem me iniciei há pouco tempo nestas lides e que me despertou a vontade e a curiosidade para ir mais além. Fi-lo movida por essa curiosidade e pelo apelo para sair da grande cidade e passar uns dias de introspecção, longe das coisas que nos ocupam no dia a dia e que nos retiram tempo e espaço para estarmos a sós connosco e nos confrontarmos.
A viagem foi uma boa maneira de preparar o retiro . O comboio até ao Porto e depois a viagem de carro até Macedo de Cavaleiros (que eu insistia sempre em confundir com Mondim de Bastos) deu-me hipótese de perceber o quão interessantes e interessados (ou será a inversa, a ordem?) eram os meus companheiros da Oficina do Bem-Estar. Muito diferentes de mim, do meu mundo exterior, da minha vivência quotidiana, mas com um entusiasmo e um olhar desperto onde gosto, onde me quero rever.
Fui com muita expectativa mas alguma reserva. Afinal sou uma novata nestas coisas e 3 dias num Mosteiro perdido em Balsamão, inteirinhos dedicados ao Yoga (teoria e prática), pode ser uma prova difícil de superar….
Sinto, no entanto, que foi uma prova ganha.
Para isso contribuiu desde logo o local – um sítio lindíssimo, longe da bulício da cidade e da poluição, a convidar à calma e à reflexão - e a comida. Hmmm …. soberba, a comida. Eu que não sou vegetariana, rendi-me ao prazer daqueles manjares que eram um verdadeiro regalo para os olhos e para os sentidos.
O mestre Andre de Rose foi uma agradável surpresa. Surpresa pelo conhecimento, pelo seu inconformismo (nada para ele é um dado adquirido e está sempre predisposto a pôr em causa as suas verdades e a voltar a investigar do início, se necessário for), pelo entusiasmo, pela capacidade de comunicar, pelo sentido de humor, pela preocupação com os outros, pela humildade.
Tocou-me particularmente a humildade. O não pretender criar um modelo para efeitos de ser seguido por outros. Nem defender aquilo em que acredita como uma verdade irrefutável em detrimento de outras. Para ele todas as correntes, todos os modelos de yoga estarão certos, vistos na perspectiva de quem os defende. Isto foi o que retive como de mais importante. E isto é, para mim, um ensinamento que se aplica à vida. O que interessará sempre, a cada um de nós, mais do que seguir trilhos feitos por outros, é encontrar o seu próprio caminho.
Sinto que me enriqueci com o fim de semana em Balsamão. Foi uma oportunidade de olhar para dentro, de perceber que, através da prática do yoga e da meditação podemos encontrar uma sintonia entre corpo e mente, melhorar o autoconhecimento, atingirmos o nosso verdadeiro eu e que se distingue das personagens que representamos diariamente para os outros e para nós próprios.
Foi também uma oportunidade de olhar para fora e de contactar com outras pessoas, com ideias, referências e pontos de vista diferentes dos nossos.
Por tudo isto terá, seguramente, valido a pena.

Helena